Yasmin Guimarães
A atuação sobre o campo pictórico inicia primeiramente sobre papel, evoluindo para as telas de linho em formatos diminutos. Guimarães lida com a qualidade planar da tela a partir da inserção de manchas cromáticas sutis e pela breve sugestão de formas geométricas. Nota-se o surgimento esporádico de indícios de paisagens, sendo estas autônomas em relação a eixos de perspectiva, pontos de fuga ou geometria da incidência da luz. Alguns elementos têm sua presença aludida, num jogo de proposição. Como afirma o curador Douglas de Freitas, “Em meio a uma proliferação de suportes e técnicas, o desenho é uma constância na produção pictórica da artista, e aparece de maneiras distintas, como desenho sofisticado, garrancho, ou imagem esquemática, quase como desenhos rupestres ou infantis”.
O plano da tela é tomado por composições sutis, com poucas intervenções de pigmentos em tons leves. A brandura cromática se encontra com a nudez da tela crua, aparente. Este encontro é fruto de uma capacidade da artista em lida com a complexidade intrínseca ao ato de se ser simples.
A liberdade do fazer da artista se manifesta, depositando tinta apenas nas bordas e arredores deixando a tela nua como tema central, ou ainda no uso do voile e do papel de seda, que criam por sua vez uma espécie de pintura sem tinta, explorando as possibilidades de expansão dos limites de se pensar e de se fazer pintura. A transcendência do suporte, independente da intenção de criar uma paisagem imaginária ou abstrata, cria uma poética que traduz sentimentos, sensações, leveza, e o faz talvez como forma de suportar os conflitos inerentes à existência, como forma de ordenar o caos, uma ordem cuja medida é o próprio instinto.
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