Julia Kater
Julia Kater (1980, Paris) é formada em Fotografia pela ESPM (2004) e em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2003). Sua prática atravessa a fotografia, a colagem e o vídeo, com foco na elaboração da imagem a partir do recorte e da justaposição. Na fotografia, a artista parte do entendimento de que toda imagem é, por definição, um fragmento — um enquadramento que recorta e isola uma parte da cena. Em sua obra, a imagem não é apenas um registro de um instante, mas resultado de um deslocamento — algo que se desfaz e se recompõe no mesmo gesto. As imagens, muitas vezes próximas, não buscam documentar, mas construir um novo campo de sentido.
Nas colagens, o gesto do recorte ganha corpo. Fragmentos de fotografias são manualmente cortados, sobrepostos e organizados em camadas que criam passagens visuais marcadas por transições sutis de cor. Esses acúmulos evocam variações de luz, atmosferas e a própria passagem do tempo através de gradações cromáticas. Em certos momentos, a imagem se impõe à experiência direta — não como reflexo do vivido, mas como uma construção que assume o lugar daquilo que se viveu. A paisagem, elemento recorrente em sua obra, é composta por planos em constante disputa, onde fragmentos de céu, terra e mar parecem reivindicar o lugar uns dos outros. Por meio do recorte e da sobreposição, essas instâncias visuais se confrontam e redefinem seus contornos, instaurando uma dinâmica de ocupação e retirada que desestabiliza a estrutura da imagem.
Em seus vídeos, a artista encena tentativas de dar forma à experiência a partir de uma linguagem que falha. Há sempre um gesto em andamento — construir, remover, sustentar — tensionado por algo que o desvia ou desestabiliza. O que foi negligenciado retorna como ruína, interferindo nos gestos e contaminando a paisagem. O movimento é contínuo, mas sem chegada — uma persistência que revela tanto o impulso de construir quanto a impossibilidade de concluir.Suas principais exposições individuais são Breu (Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, 2018), Da banalidade: vol.1 (Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, 2016), No lugar que chegamos (Museu de Arte Contemporânea de Jataí, Goiás, 2016), Como se fosse (Caixa Cultural, Brasília, 2014), Quase um (Simões de Assis, São Paulo, 2021) e Acordo (Palazzo Rossini, GAA Foundation, Veneza, 2017). Participou de exposições coletivas e festivais internacionais como Rencontres Internationales Paris/Berlin – New Cinema and Contemporary Art (França e Alemanha, 2017), Chicago Underground Film Festival (EUA, 2021), Anthology Film Archives (Nova York, 2018), Lichter Film Festival (Alemanha, 2021), Bienal de Assunção (Paraguai, 2015), PhotoEspaña (Portugal, 2015), Frestas – Trienal de Artes (SESC Sorocaba, 2014) e About Change (World Bank, Washington, 2011). Sua obra integra coleções públicas como o Museu de Arte do Rio – MAR, o Museu Oscar Niemeyer – MON, a Fundação Luis Seoane (Espanha), a Fundação PLMJ (Portugal) e o Museu de Arte de Ribeirão Preto – MARP.
ler mais >
Sem Título, série Primeira Luz, 2025
recorte de fotografia impressa sobre papel algodão
145 x 117 cm
Sem Título, série Primeira Luz, 2025
recorte de fotografia impressa sobre papel algodão
145 x 117 cm