Thiago Rocha Pitta
Thiago Rocha Pitta (Tiradentes, 1980) iniciou sua produção artística nos anos 2000, depois de mudar-se para o Rio de Janeiro e frequentar cursos de arte, filosofia e estética na UFRJ e na EAV Parque Lage. Sua pesquisa se ancora, desde então, em relações narrativas, visuais e materiais que estabelece intimamente com a natureza – ela, de fato, é uma espécie de coautora em diversas de suas obras. Seu corpo de trabalho é ligado a um profundo fascínio pelas sutis transformações do mundo ao seu redor.
De um lado, esses temas são capturados em vídeos e fotografias de recortes micro e macroscópicos, revelando um interesse particular do artista pelos elementos pequenos e banais do domínio natural. Em muitos de seus filmes as narrativas são ora melancólicas, ora ameaçadoras, marcadas por atmosferas silenciosas e por situações quase surreais, explorando a entropia espontânea da matéria. Em "Homenagem a JMW Turner", por exemplo, um pequeno barco pega fogo em mar aberto, representando um embate surpreendente entre as chamas e a água. De outro lado, Rocha Pitta aventura-se por variadas linguagens como aquarela e afresco – técnica milenar de pintura sobre gesso. Essas obras tentam traduzir para a linguagem pictórica as sutis (ou violentas) oscilações do clima, como o assentamento da neblina ou os temporais, além de também retratar fenômenos astronômicos, como os eclipses solares e lunares e as quedas de cometas.
Outro elemento muito recorrente em sua produção é o tempo, cuja agência e premência são também traduzidas em instalações e intervenções ao ar livre. Em "Clopen Door", Rocha Pitta funde as palavras close e open (fechado e aberto em inglês), criando um neologismo em que os termos não são antônimos, mas sim complementares. O título é partilhado pelo vídeo e pela escultura na qual uma porta reside sobre uma grande pilha de lenha à qual se ateia fogo, em referência à queima e ruína sistêmica de museus e instituições no Brasil. Outro trabalho central e de grande destaque em sua trajetória é o espelho d'água/plataforma construído sobre uma colina, que convida o público a andar sobre o reflexo do céu, vislumbrando o abismo abaixo. A instalação inspira o projeto " A Fundação Abismo", localizada no meio da Mata Atlântica, no limite da cidade de Petrópolis, onde o artista hoje vive, mantém seu ateliê e implanta obras que interagem com a paisagem.
Realizou diversas individuais, incluindo: "O Suplício de Cabral" (2022), Simões de Assis, São Paulo; “Noite de Abertura” (2020), MAM, Rio de Janeiro; “Hugo França & Thiago Rocha Pitta: Tropical Molecule” (2019), Galeria Marianne Boesky, Aspen; “Temporal Maps of a Non-Sedimented Land” (2015), Galeria Marianne Boesky, Nova York; “L'Eremoo e II Campo Accampa” (2013), Gluck50, Milão; “The BAR vol.2” (2008), Arts Initiative Tokyo. Entre as coletivas notáveis que participou, destacam-se: “Chosen Memories - Contemporary Latin American Art from the Patricia Phelps de Cisneros Gift and Beyond” (2023), MoMA, Nova York; “Histórias Brasileiras” (2022), MASP, São Paulo; “Planet B: Climate Change & the New Sublime” (2022), Palazzo Bollani, Veneza; “Passado/Futuro/Presente” (2018), MAM, São Paulo; “What’s Up – The Americas” (2017), Whiteley’s, Londres; 30ª Bienal de São Paulo (2012); "A Time Frame" (2006), MoMa-PS1, Nova York; "J'en Rêve" (2005), Fondation Cartier pour L'art Contemporain, Paris. Possui obras em importantes coleções particulares e públicas como MoMA, Nova York; Colección Jumex, Cidade do México; MAM, São Paulo; MAM, Rio de Janeiro; Inhotim, Brumadinho; ThyssenKrupp, Viena; e Hara Museum, Tóquio.
ler mais >
20 de abril de 1500, o Monte Pascoal avista a armada de Cabral, 2022
aquarela sobre papel
74,5 x 122 cm (com moldura)
O Batismo; na véspera da partida, duas feiticeiras encantam as águas do rio, homens carregam os barris cheios até as naus, 2022
aquarela sobre papel
74,5 x 122 cm (com moldura)
O despertar; antes da aurora, plantas, animais e homens, céu, terra e Mar se reúnem, 2022
aquarela sobre papel
74,5 x 122 cm (com moldura)
2 de maio de 1500. O Suplício de Cabral; enquanto dormem enfeitiçados pelas águas encantadas, nativos ateiam fogo nas naus. FIM, 2022
aquarela sobre papel
74,5 x 122 cm (com moldura) cada - díptico