Juliana Stein
Juliana Stein (Passo Fundo, RS – 1970) formou-se em Psicologia e, em seguida, viveu em Veneza e Florença por dois anos, onde estudou desenho, história da arte e aquarela. Começou a fotografar no final dos anos noventa.
Inicialmente, as séries fotográficas de Juliana Stein enunciam e documentam a crise em que submergiu a ideia de sujeito moderno, ancorada numa concepção de seres humanos uniformes e dotados de identidade fixa e autonomia plena. Em vez da afirmação da integridade desse sujeito, é o seu caráter fragmentado e difuso que seus trabalhos apontam. Em vez de identidades estáveis, é o efêmero e o múltiplo que assinalam. Não há em suas imagens a pretensão do comentário discursivo e culto; tampouco se pretendem engajadas numa atitude crítica ou celebratória do estado de confusão de limites entre as coisas do mundo. Nas imagens, Juliana Stein apresenta retratos de homens que, valendo-se de cosméticos, perucas e roupas femininas, travestem-se de mulheres. São fotografias que, a despeito das razões que levam cada um deles a assumir outra identidade sexual, sugerem a condição transitória e circunstancial do indivíduo na contemporaneidade – não mais estável, mas se refazendo a cada instante; não mais uno, mas dividido de modo irreparável. A postura afirmativa de cada um deles parece dar sentido comum e potência a desejos que se querem diferentes daquilo que é imposto como norma.
Mais recentemente, sua obra se transforma, colocando em xeque a representação dos territórios da arte, espaços e sujeitos. Curtos textos agora são impressos em placas de acrílico, que Stein denomina como autobiográficos. “Tudo se passa como se meu poder de acesso ao mundo e o de entrincheirar-me nos fantasmas não existissem um sem o outro. Assim, é justamente quando tento me aproximar que crio um afastamento.” Os questionamentos de Stein já estavam presentes em discursos anteriores, como imaginação, indignação e tempo presente. Ela se refere a um momento único e particular que já não existe e que se deixa marcar no tempo que já não é. Stein abandona o sujeito explícito de suas fases anteriores, para trabalhar com ficções do sujeito enigmático, lúdico, misterioso. Esta pesquisa é uma tentativa de articular espaços da fotografia em torno do sentido opaco das coisas que escapam, e que nos inscrevem mais do que podemos escrever sobre elas.
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