Niobe Xandó: Linguagem Gráfica
No 8 de março celebramos o Dia Internacional das Mulheres. Nesta ocasião, a Simões de Assis reconhece a relevância e importância das mulheres artistas e suas contribuições à produção cultural e visual desde tempos imemoriais. A data marca não apenas a luta histórica por direitos e igualdade, mas também a busca por equidade, difusão e valorização de mulheres no sistema das artes. Acreditamos na ampliação da representação feminina, fomentando a produção de artistas jovens e a circulação de nomes consagrados, além de dedicarmos esforços ao resgate daquelas que foram apagadas ou esquecidas pela história da arte. Assim, apresentamos um recorte que tenta dar conta da extensão e complexidade da obra de Niobe Xandó, artista paulista e autodidata que produziu por mais de cinco décadas de maneira consistente, e que ainda está sendo descoberta pelo público.
Xandó é um nome fundamental no esforço de reescrita, revisão e reinserção das mulheres artistas na história e no mercado. Sua mostra simboliza as produções que escapam de definições temporais ou estilísticas, e que permaneceram à margem do circuito artístico. Foi na contra-mão das tendências da arte concreta das décadas de 1950 e 60, e da arte conceitual dos anos 1970, que a artista cravou sua independência estilística. Embora vertentes do dadaísmo e surrealismo sejam identificadas em telas do início de sua carreira, ela nunca se filiou a qualquer movimento.
A mutação do ser e seus signos lhe interessavam profundamente. A este jogo de forças perene entre a ideia de sacralidade de um mundo anterior e a velocidade imprimida nos corpos pela evolução tecnológica, Xandó deu o nome de Mecanicismo. Mergulhou, assim, na cultura nacional brasileira, investigando a potente presença da matriz africana no país – representada pelas máscaras –, além das estéticas pré-colombianas e indígenas – incorporadas pelas geometrizações e padronagens. Dessa maneira, passou a criar seres unicelulares, totêmicos e planares no espaço pictórico, estilizados de modo chapado, entre uma abstração geométrica e uma figuração fantástica.
Xandó também criou sua própria linguagem gráfica – parte gestual, parte escrita, parte desenho –, amalgamando referências que evidenciam como a linguagem pode ser desenho, e como desenho pode ser linguagem. A artista explorava as qualidades esquemáticas e gráficas da palavra, desenvolvendo uma espécie de alfabeto hieroglífico muito próprio. Ainda que sua escrita não seja exatamente traduzível, é definitivamente compreensível: uma nova forma de comunicação na eterna ponte entre o verbo e a imagem, sendo para Rubem Valentim a primeira artista brasileira da textura.
Fica, portanto, nosso convite para que adentremos e nos aprofundemos nesse universo metamórfico da fantasia da natureza e da linguagem gráfica singular de Niobe Xandó.
08/03/2022 até 02/04/2022
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