Uma coleção de arte é uma conjunção de linguagens, lugares e formações diversas em que as obras se interligam por uma linha simbólica que as unifica: o gesto colecionador. A exposição “Olhar de colecionador: Laurita Karsten Weege” é um convite à junção de histórias, da sólida trajetória da Simões de Assis com as escolhas refinadas da colecionadora Laurita Karsten Weege. A mostra materializa o atravessamento entre o espaço expográfico da galeria e o olhar especializado da colecionadora, uma parceria que reconhece as contribuições significativas de Weege ao projetar um encantamento pela arte.
A família Weege é reconhecida pela contribuição à industrialização brasileira e pelo papel no desenvolvimento de cidades em Santa Catarina, além de iniciativas beneficentes e de incentivo à arte e à cultura, consolidando uma trajetória e um legado extraordinário para o país. Para a ocasião dessa mostra, destacamos uma outra faceta da singular Laurita Karsten Weege, a do seu interesse profundo pela produção artística. Bastante influenciada pelas aulas de História da Arte ministradas pelo professor Otto Francisco de Souza, Laurita passou a orientar-se para a aquisição de obras, uma pintura de Anita Malfatti tornou-se a primeira de sua coleção. No entanto, quando se inscreveu no curso para aprender e se informar sobre arte, já havia um interesse prévio, uma admiração que vinha da percepção de estar diante de uma pintura que ficava na cozinha da casa de deus pais, uma paisagem com um ganso que lhe despertava encanto, quadro esse que permanece com ela até hoje.
Desde o início o acervo foi se avolumando, construindo uma coleção inigualável, um diálogo entre o moderno e o contemporâneo, da produção nacional com a internacional, em que cada obra adicionada reflete Laurita e seu modo de escolha pelo interesse e identificação. Colecionar é uma prática, o desenvolvimento de uma pesquisa, e a sua é uma das maiores coleções de arte do Brasil, simbolicamente e quantitativamente. Inclui nomes renomados como o cinético Carlos Cruz-Diez, os ícones modernistas Cícero Dias, Eleonore Koch e Alberto da Veiga Guignard, avizinhados a nomes contemporâneos que experimentam linguagens diversas como Zéh Palito, Ascânio MMM, Schwanke, Julia Kater e mobiliários ousados como os dos irmãos Campana.
Convoca a pensar uma exposição como um dispositivo de memória, de uma curadoria em constante movimento em possibilidades relacionais, de modo a demonstrar como as escolhas ganham dimensão para fora do espaço privado da coleção e tomam forma no espaço da galeria. Entre os artistas participantes estão Alfredo Volpi, Gonçalo Ivo, Paulo Pasta, Eleonore Koch, Mano Penalva, Abraham Palatnik, Antonio Malta Campos, Ascânio MMM, Emanoel Araujo, Alberto da Veiga Guignard, Siron Franco, Delson Uchôa, Zéh Palito, Estúdio Campana, Carlos Cruz-Diez, Delson Uchôa, Flávio Cerqueira, Juan Parada, Julia Kater, Schwanke, Sergio Lucena. Evoca uma variada expressão de linguagens, com mobiliários, objetos, esculturas e pinturas. Os trabalhos demonstram pesquisas poéticas profusas com atuações sobre diversos suportes como tecidos, plásticos, pelúcias, madeira, cerâmica, cartão, bronze e folhas de jornal.
O recorte das obras sugere um delineamento das escolhas e afinidades estéticas do olhar da colecionadora, realizando um diálogo formal entre as peças e, principalmente, um desenho espacial que desperta a vinculação matérica, como um vislumbre da casa de um colecionador projetada para o espaço expositivo. Evoca relações formais e temáticas, principalmente investigações cromáticas, a ênfase no gesto, a concretude da geometria e a coexistência bidimensional e tridimensional.
A exposição marca a presença da colecionadora como mediadora entre o público e o acervo da Simões de Assis, indicando uma seleção de obras que aponta aproximações cromáticas, artistas e linguagens. Não é realizada em um recorte cronológico, aqui mergulhamos na leitura poética da colecionadora, projetada no espaço da galeria. A mostra coletiva apoia-se conceitualmente no olhar de Laurita Karsten Weege, revelando como a ação de colecionar se constitui também como um gesto curatorial, uma projeção visual. A composição dialógica reúne artistas de diferentes gerações e linguagens, evidenciando a coleção particular como um esforço de pesquisa e de encontro. A exposição é uma situação criada que reproduz uma espécie de espelhamento do conjunto colecionado por Weege, uma cenografia afetiva de sua residência, um espaço onde as obras habitam e são habitadas.