Apresentação: Felipe Scovino 

Distintos métodos e apropriações sobre a paisagem transitam pelas obras de Kboco, PJota e Vânia Mignone. Ademais, essa exposição apresenta três variações sobre o lugar da pintura na contemporaneidade. São pinturas que nem sempre lidam com o que (ainda?) se espera dela, isto é, não necessariamente estaremos diante de tinta a óleo ou acrílica sobre tela. É nessa articulação de recortes, assemblages e inserções de materiais que podíamos identificar outrora como precários, que une essas obras ao mesmo tempo em que cria um território muito particular para cada uma delas. É perspicaz a escolha de cada um deles pela falta da “cor local” ou seja, quem esperar a tematização do Brasil, certamente não encontrará isso nos trabalhos. O tema local não está em nenhuma imagem, justamente porque ele já se dissolveu no mundo. Essas obras apontam que a ideia de identificação, através da qual nos projetamos em nossas identidades culturais, tornou-se mais provisória, frágil e variável.
Ao refletir sobre a paisagem, com um acento no urbano, como símbolo na arte contemporânea encontramos duas vertentes: a do excesso (do acúmulo de teorias e reverberações sobre o mesmo tema) e a da investigação meticulosa e preocupada com a instauração de uma nova possibilidade para se pensar sobre esse tema em um mundo marcado por uma constante remarcação de fronteiras e alterações climáticas que de alguma forma alteram a constituição da paisagem e deixam a mostra a sua instabilidade. Os três artistas trilham o segundo caminho.
A obra de Kboco possui uma ambiguidade perspicaz, porque ao mesmo tempo em que constrói a cartografia de um mundo imaginário por meio de uma série de junções de fragmentos, papéis e colagens, esse mapa (que também pode ser confundido com fachadas ou plantas baixas, deixando clara o diálogo com a arquitetura) possui referências que se cruzam: desde arabescos a uma linguagem que possui fortes vínculos com o grafite. São inúmeros dados que atravessam distintas culturas, como se o artista individualizasse peças ou lugares e essas formassem um grande painel que, por sua vez, por mais abstrato que seja, revela em suas particularidades uma espécie de mapa mundi. Sua pintura traz elementos típicos da geografia urbana – entre outros o grafite e uma visualidade que ambiguamente (e proficuamente) dialoga sofisticação nos traços e referências a outdoor e fachadas de rua – e uma ideia de “corporiedade instalativa” quando suas obras em grande número são instaladas no espaço. Por meio de escalas que dialogam com o espaço onde passam a habitar naquele momento, suas obras apresentam uma possibilidade de se pensar o vazio do cubo branco como um campo ampliado de experimentação e investigação de uma produção artística que prima pelo diálogo entre arquitetura, cidade e artes visuais. Estamos diante de um corpo espacial – as obras cobrindo a “pele” do espaço da galeria - coberto por “mapas imaginários” que, por sua vez, nos apresentam um campo de experiências pulsantes e reordenam novas possibilidades de pensarmos sobre o campo da produção contemporânea das artes visuais.
Há algo infantil e violento, veloz e intransigente na obra de PJota. Suas obras compartilham uma ideia de mundo que não necessariamente é a do espectador, principalmente se você adota um mundo passível e ordeiro. Suas representações não são silenciosas, e é nessa apreensão que percebemos a qualidade da sua obra, ou seja, sua principal vocação ao ser fabricada é dirigir o olhar e percepção justamente para o que ocorre no mundo.
É curioso como o artista opera a relação entre pintura e desenho, o quanto cada técnica invade a outra, formando uma relação harmônica. Guardadas as suas distintas singularidades fenomenológicas, essa aproximação também se dá nas obras de Vânia Mignone. Hoje o desenho possui uma autonomia que lhe dá o mesmo estatuto da pintura, gravura, instalação, performance, fotografia ou vídeo. O desenho tem uma vida própria e independente, está longe do seu passado subordinado e dependente como preparação a uma obra final, seja uma pintura, seja uma escultura. A substância da autonomia conquistada pelo desenho se encontra ali onde alguma coisa se traça e se materializa, não apenas na questão da linha - no sentido tradicional do desenho - nem tampouco no sentido que a arte contemporânea tem adotado largamente, quando toda vez que pintam sobre o papel, chamam isso de desenho, e aquilo pode ser considerado pintura sobre papel. Contudo, no caso de PJota, há o sentido maior de desenhar, de traçar algum caminho, mesmo que seja por conta de um improviso ou acidente. É justamente na contaminação do espaço por esses acidentes que surge um dado a se ressaltar: nos parece que esses espaços fogem ao seu controle, por mais que evoquem um planejamento.
Dando continuidade a esse lugar do desenho na contemporaneidade e o quanto ele invade, se reposiciona e é incorporado a um repertório contemporâneo, as obras de Mignone o posicionam com uma velocidade e um arrojo que são particularmente difíceis de serem conciliados. E, portanto, a artista consegue orquestrar de uma maneira bem autoral essa relação. Suas obras possuem a velocidade de uma história sequencial, de um cartaz ou dos outdoors. São traços velozes, sujos na medida certa, e cuja literalidade está em constante escape. Não necessariamente compreendemos aquela imagem, e mais ainda nem sempre imagem e texto se adequam. É o dado do estranhamento que rapidamente desconecta as obras do que poderíamos chamar de “passado pop e urbano”. Suas obras podem corresponder ao frame de um filme, mas ao mesmo tempo perceberíamos que eles só poderiam pertencer a certa qualidade cinematográfica, como por exemplo a de um filme de David Lynch, no qual a quebra de uma narrativa formal e a experiência de tempo é a todo instante reelaborada. Há essa negociação na obra de Mignone: em um primeiro momento, as referências podem surgir facilmente mas não necessariamente elas permanecem por um longo período, porque logo se confundem. As obras nos questionam sobre que lugar ou paisagem é aquela que está diante de nós. Há uma espécie de mistério a ser decifrado. Um lugar preenchido pelo indício de que algo acabou de acontecer por ali ou há muito é ocupado apenas por memórias. São situações imprecisas que qualificam as suas obras como imagens de lugar nenhum.

Felipe Scovino

 

Meio Dia (Políptico) - Vania Mignone

Acrílica sobre mdf. 180 x 180 cm. (4 partes, 90 x 90 cm cada) 2009

Sem Título (Um Céu Vermelho Estranho) - Vania Mignone

Acrílica sobre mdf. 180 x 180 cm. (4 partes, 90 x 90 cm cada). 2011

39 (Polípitico) - Vania Mignone

Acrílica sobre mdf. 180 x 180 cm. (4 partes, 90 x 90 cm cada). 2011

Sem título - Pjota

Acrilica, esmalte sintético, caneta e lapís sobre tela. 150 x 200 cm. 2011

Sem Título - Transtorno Obsessivo Compulsivo | Relações Dimensionais - Pjota

Acrilica, esmalte sintético, caneta e lapís sobre tela. 200 x 150 cm. 2011

Construção, Desconstrução e Ocupação - Pjota

Acrilica, esmalte sintético, caneta e lapís sobre tela. 80 x 120 cm. 2011

Chá de Melancia - Kboco

Óleo sobre tela. 90 x 70 cm. 2012

Banana com Mel - Kboco

Desenho. 98 x 40 cm. (Com moldura 105,7 x 48 cm). 2012

Nossa Senhora do Bom Jesus - Kboco

Óleo sobre tela. 150 x 100 cm. 2012

Templo Místico Veuve Clicquout - Kboco

Óleo sobre tela. 200 x 200 cm. 2012

Golden Monkey - Kboco

Desenho. 92 x 36 cm. (Com moldura 99 x 45,5 cm). 2012

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