Lize Bartelli (Rio de Janeiro, 1984). Artista visual autodidata, cresceu no Rio de Janeiro e, aos 20 anos, mudou-se para Nova York, onde estudou audiovisual em um curso livre. Voltou posteriormente para o Rio de Janeiro e formou-se em filosofia pela PUC/RJ, juntamente com o curso de teatro na Casa das Laranjeiras. Mudou-se para a Europa aos 25 anos, estudando na França e posteriormente em Milão, onde realizou mestrado em moda. Foi nesse período que começou a realizar seus primeiros desenhos. Aos 27, mudou-se para Londres para trabalhar com designer de acessórios, período no qual começou a estudar história da arte. 

Sua carreira como pintora iniciou-se com pesquisas sobre artistas que admira como Georgia O'Keeffe, Josef Albers e Alice Neel, estudando composição dessa maneira. A partir de estudos de modelo vivo passou a desenhar com carvão e a investigar a figuração, para somente depois partir para a pintura com tinta a óleo, haja vista que prefere a flexibilidade do óleo à da tinta acrílica. Seu processo envolve uma criação prévia de composição na fotografia, em que monta um cenário do que quer transformar em pintura depois. Há também composições que são criadas diretamente na tela, refletindo seu interesse por cenários em que representa especialmente mulheres em ambientes internos: sentadas, esperando, há uma certa solidão que cerceia essas personagens. As modelos dos trabalhos são pessoas próximas da artista, amigas ou familiares, e servem de inspiração, não de fonte para uma reprodução realista.  

Seus retratos são intimistas. Em geral, as figuras aparecem sentadas, quase como uma meditação sobre a posição da mulher na sociedade, explorando a representação da identidade feminina na história da arte e na cultura popular. Bartelli examina também os tropos de gênero da domesticidade, abraçando as possibilidades de intimidade e conexão oferecidas pelo lar. Esses espaços apresentam motivos familiares repetidos, como espelhos e relógios, além dos animais de estimação, sugerindo narrativas sobre autorreflexão, aparências enganosas, identidade e a passagem do tempo. 

Bartelli nomeia seu trabalho como fauvismo Pop, com um uso de cor figurativo, mas não realista, com personagens de peles verdes e azuis, e cenários com tonalidades fortes. Há uma certa inquietude e estranhamento nesses trabalhos. Para a artista, a pele esverdeada representa mortalidade e decadência. As pinturas sugerem uma sensação de autocontenção e autossuficiência, ao mesmo tempo que aponta para a solidão fundamental da vida. Encontrando um equilíbrio entre a melancolia e a paz, as obras exalam uma atmosfera de quietude e tranquilidade – como se essas mulheres estivessem esperando por algo. Com carreira recente, Bartelli participou da coletiva “Mothering”, no Kupfer Project (2022), Londres; e “Skeleton Closet”, exposição individual na Simões de Assis, São Paulo.